Categoria: Dependência Química

Dependência química: a doença dos vínculos e a importância da família no tratamento

Vínculos frágeis entre o jovem e as fontes primárias de socialização: família, escola, e amigos, são fatores de risco para a instalação de desvios. Vínculos e ajustes saudáveis com a família e a escola previnem a associação do jovem com as ditas “mas companhias”. Estas três fontes funcionam para o jovem como mediadoras das outras influências sociais: a religião, a mídia e a comunidade.

A Terapia Familiar Sistêmica tem um papel importante na criação de condições relacionadas tanto ao uso de drogas, quanto aos fatores de proteção, funcionando igualmente como antídoto, quando o uso de drogas já estiver instalado.

A luz dessa teoria, a família foi entendida como um sistema com regras específicas de funcionamento e organização que regem as relações entre seus membros. Logo pensar sistemicamente é concentrar-se no padrão dos relacionamentos dentro de um sistema, e não apenas nas suas partes, ou seja, é olhar para todos os familiares, e não apenas o paciente identificado, é olhar de forma ampla, circular e contextual. Inclui ainda conhecer um pouco mais sobre as relações que estas pessoas estabelecem com seu meio para compreender melhor suas ações e pensamentos.

Enfim, para tratar a dependência química e obtermos resultados verdadeiramente consistentes, devemos tratar sim com os fármacos, e com a abstinência, com a vivência da espiritualidade, mas precisamos perceber que a dependência química é a doença dos vínculos, logo para tratá-la devemos restabelecer vínculos seguros, e para isto, devemos compreender sua história, seu sofrimento, a função deste sintoma na sua vida,  e restabelecer novas relações, mais saudáveis com  família,  com seus amigos, com a sociedade, e caso tenha um trabalho, com este também,  e devemos construir juntos novos projetos de vida, que o faça verdadeiramente feliz.

Reflexões sobre nosso universo pós-moderno e nossa cultura adicta: que cultua e incentiva drogas

Todo ser humano possui necessidades fisiológicas básicas tais como: ele precisa respirar, beber, se alimentar, dormir, manter seu equilíbrio térmico e hídrico e precisa também eliminar suas toxinas através da evacuação.

Mas o ser humano para ser integralmente saudável e feliz precisa de mais: ele precisa se aceitar e se sentir aceito e precisa amar e se sentir amado.

Estas quatro necessidades afetivas são em minha opinião, a causa dos inúmeros sofrimentos vividos, das dificuldades nos relacionamentos e dos sintomas expressos nas patologias físicas e psíquicas atuais.

Ele sofre pela ânsia de precisar de afeto, porém muitas vezes é inábil para pedi-lo, sofre pela falta de amor-próprio e de respeito, os quais busca resolvê-los consumindo compulsivamente, ou através de dietas irracionais, jogando excessivamente, consumindo bebidas alcoólicas ou outras drogas, lícitas ou ilícitas, enfim através de ações alienantes e que buscam aliviar o sofrimento e a dependência afetiva.

Todo humano é único, assim como será única à via de expressão de seus sentimentos. Desta forma, os objetos de compulsão aparecem como metáforas de afeto.

Existem em nossa atual sociedade diversos aspectos que estimulam uma cultura de dependências: uma cultura orientada para evitar a dor. Como por exemplo, os problemas de má digestão que são resolvidos com medicações, ou de uma dor de cabeça originada por uma situação de stress, é imediatamente medicalizada, sem qualquer questionamento sobre a origem do mal estar; o estímulo à crença de soluções fáceis para qualquer transtorno, as famosas pílulas mágicas, soluções estas que acabam excluindo a responsabilidade do indivíduo na busca de recursos mais efetivos, duradouros e saudáveis.

Vivemos em uma sociedade voltada para a superficialidade, a rapidez, a beleza a qualquer preço, para um individualismo, a competição e da “falsa e rápida felicidade” obtida através de bens materiais que possui tempo e prazo de validade

O paradigma sistêmico reafirma nas questões referentes ao uso indevido e abusivo de drogas, o lugar, o papel e a corresponsabilidade da família como instituição que elabora as relações primárias de socialização tanto de crianças quanto adolescentes e adultos.  Falando aqui sobre a adolescência um período do ciclo vital, em que a curiosidade por experiências novas, a troca e a influência do grupo de amigos são fundamentais, muitas vezes o uso de drogas se inclui como fonte de socialização e como uma linguagem do adolescer, e quando acontece de forma abusiva, constitui-se num problema que pode repercutir em todo o processo posterior da vida do jovem.

Embora a atenção do adolescente esteja voltada para fora do lar e centrada nos grupos, para compreendê-lo torna-se necessário inseri-lo no contexto familiar e sociocultural, pois a família nuclear e extensa é que fornece as bases para seu desenvolvimento. É na família que deve ser assegurado os comportamentos normalizados pelo afeto e pela cultura. Por isso, a família é fundamental na prevenção e no tratamento do uso de drogas.

Entende-se aqui por família, alguém que se importe, e que possa acolher do ponto de vista social, psíquico e afetivo.

O pensamento sistêmico compreende os comportamentos aditivos, como um estado de submissão e dependência com restrita vontade, e busca decodificar as causas disfuncionais em todo o contexto familiar.

Drogas, um mundo de solidão e sofrimento, mas que tem tratamento

Neurologicamente a drogadição deve ser considerada uma doença, pois está ligada a alterações na estrutura e funções cerebrais, e isso a torna uma doença cerebral.

Inicialmente, o uso de drogas é um comportamento voluntário, mas com o uso prolongado, um “interruptor” no cérebro parece ligar-se, e quando o “interruptor” é ligado, o indivíduo pode entrar em um estado de dependência química caracterizado pela busca e consumo compulsivo da substância de escolha, que pode ser álcool, tabaco, maconha, cocaína, crack, ecstasy, e inúmeras outras.

Devemos entender a dependência química como uma doença bio-psico-social-ecológico-espiritual, formada por componentes biológicos, psicológicos, de contexto social e espiritual. É claro que as estratégias de abordagem e o tratamento para que seja verdadeiramente eficaz, deve incluir, igualmente, elementos: biológicos, psicológicos(emoções, sentimentos e comportamentos), micro sociais (incluindo a família), macro-sociais (incluindo a sociedade), ecológicos (conexões diversas) e espirituais(propósito e sentido para a vida).